Consumo e Pensamento


Lixo Zero: Dia 6 – Lixo Eletrônico

Posted in consumo sustentável,lixo zero,Tecnologia por pjresende em agosto 7, 2010
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A foto acima é o flagrante de uma cena inusitada: uma TV de 29 polegadas lançada em plena calçada! O registro foi feito em uma movimentada rua da zona sul do Rio de Janeiro, e serve de elemento demonstrativo de um grave problema nas cidades: o lixo tecnológico.

O problema é grave e crescente: segundo informações divulgadas pela ONU, o Brasil ocupa uma triste liderança: é o país emergente que mais toneladas de geladeiras abandona a cada ano por pessoa. Além disso, é um dos líderes em descartar celulares, TVs e impressoras, sem que haja uma estrategia específica para lidar com a questão. Enquanto isso, cada habitante no Brasil, em média, meio quilo de lixo eletrônico por ano. Essas e muitas outras informações foram analisadas detalhadamente em materia publicada pelo Estadão.

A produção de bens de consumo, como geladeiras e outros eletrodomésticos, mudou muito ao longo dos anos. Até a metade do século XX, era comum adquirir rádios que funcionaram por anos e anos, alguns ainda em uso até hoje. No entanto, diversos fatores contribuiram para a mudança desse traço: a evolução tecnológica, por exemplo, assumiu um papel de destaque na atividade industrial e, quanto mais rápido é o desenvolvimento, mais curtos tendem a ser os ciclos de vida dos produtos fabricados (para que você e eu possamos comprar os novos modelos de telefone, não interessa que o nosso aparelho atual dure 10 anos). Além disso, o crescimento da industria em muitos segmentos é medido principalmente por produção e por vendas, então não é difícil concluir que  durabilidade seria uma característica prejudicial para a atividade industrial.

Mas, calma! Nem a tecnologia é uma coisa nociva, nem as industrias são perversas por fabricarem coisas que não são feitas para durar. A tecnologia é um recurso maravilhoso, capaz de promover grandes avanços e, além disso, é considerada uma das forças no complicado jogo do desenvolvimento dos países. E as industrias estão sujeitas e regras de concorrencia: um produto que dura muito pode também custar muito caro. O mercado consumidor, de  um modo geral, está “acostumado” a preferir comprar dez celulares em dez anos. Dificilmente uma pessoa hoje comprará o aparelho que pretende usar até 2020, e certamente não estaria disposta a pagar R$5.000,00 por ele (embora pareça plausível comprar um celular de R$499,00 por ano pelo mesmo período). Em resumo: não podemos responsabilizar um único fator.

De volta ao lixo eletrônico: a ameaça que ele representa é enorme. Componentes eletrônicos podem contaminar a natureza com elementos nocivos e tóxicos. As pilhas e baterias contem ácido e ourtas substâncias contaminantes. Além disso, há uma considerável concentração de plásticos, bem como outros materiais sintéticos e metálicos que podem levar décadas até que se decomponham. Felizmente, é com base nesses elementos que parte do problema encontra solução.

Diversas empresas estão atuando no segmento da chamada logística reversa, trazendo o produto inservível de volta para a cadeia de produção. A proposta é promover o aproveitamento dos materiais desse produto que já chegou ao fim da vida útil, para que seja utilizado na fabricação de novos produtos. Infelizmente, as iniciativas atuais ainda são muito tímidas: em um evento realizado pela Fecomércio, chamado “Empresas Cyberverdes”, Dell e Nokia informaram que a reciclagem dos seus produtos é incipiente, na ordem de 10% para a Dell e 3% para a Nokia. A materia completa pode ser lida no site Planeta Sustentável.

Mas nem sempre o destino é a destruição: muitos produtos antigos podem ser reutilizados parcial ou integralmente. Há muitos projetos que trabalham com material desse tipo, desde cursos de manutenção de computadores até ONGS que promovem oficinas de informática. Enfim: você pode doar o material que será utilizado por outras pessoas para iniciativas educacionais. Muito nobre!

Dentro dessa discussão, há duas iniciativas no estado de São Paulo que merecem destaque. A primeira é o Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR), que se propõe a fazer o aproveitamento total de lixo eletrônico, seja na reutilização ou na destinação adequada do material inservível. O Centro só trabalha com pessoas físicas e mais informações podem ser obtidas em contato direto, no email cedir.cce@usp.br.

A segunda é o fantástico e-lixo maps, uma parceria do Instituto Sergio Motta com a Prefeitura e o Governo do Estado de São Paulo. Mais simples, impossível: basta digitar o seu CEP, informar a quantidade e o tipo de material que você tem para descartar. O site responde com o mapa dos pontos mais próximos para os quais você pode levar o material. Simples e eficiente.

Enfim: da TV lançada na rua até o mapa georreferenciado de pontos de descarte, ainda há muito para ser trilhado. E esse caminho vale a pena, pois o que pode estar em jogo é a nossa saúde e o futuro do planeta.

Dica do dia:

Procure se informar sobre os locais nos quais você pode descartar pilhas, baterias, aparelhos eletrônicos e outros lixos tecnológicos de forma segura.

Lixo gerado:

papel: 200g (papel de escritório, guardanapos e toalhas de papel)

plásticos: 3 sacos

Outros: areia sanitária para gatos – cerca de 300g.

E-fãs: Procura-se

Posted in Tecnologia por pjresende em setembro 1, 2009
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As discussões em torno do futuro das novas mídias e das tecnologias de convergência tratam de um novo tipo de consumidor, capaz de interagir com o produto, criar e assim agregar valor que pode ser compartilhado, novamente transformado e assim sucessivamente.

São os chamados fãssumidores (do inglês fansumers), que passo a chamar aqui de e-fãs por uma questão de afinidade entre esse grupo e o mundo virtual.

O que diferencia esses e-fãs? Primordialmente, a capacidade de alterar, parodiar ou recriar produtos e conceitos que passam a ter identidade própria, com potencial para:

1) serem rapidamente difundidos entre grupos interessados; e

2) serem “produtificados” (distribuídos, consumidos e, eventualmente, até comercializados).

Os exemplos são inúmeros, desde os mashups, os fanfilms produzidos no mundo todo (inclusive aqui no Brasil), até as mais rudimentares formas de alusão a personagens (por exemplo, os herois de quadrinhos pintados em bandeiras de times de futebol).

Não podemos perder de vista três aspectos relevantes na discussão dos e-fãs:

1) as formas de proteção à propriedade intelectual não estão preparadas para isso: é necessária a discussão de novos limites do “uso” de produtos, obras, personagens e conceitos para fins específicos de expressão de criatividade de fãs e admiradores (talvez o creative commons seja uma alternativa);

2) as empresas não estão preparadas para isso: lidar com a propriedade intelectual pede uma nova visão das empresas, a fim que a dicussão sobre os impactos na imagem e reputação da organização levem em conta a possibilidade de uso do seu patrimônio intangível por terceiros, mas também em seu benefício; e

3) a sociedade como um todo talvez deva refletir sobre a relação de consumo: comprar, comprar e modificar ou recriar? São opções possíveis nesse contexto.