Consumo e Pensamento


Lixo Zero: Dia 16 – Incineradores são solução ou um novo problema?

Posted in lixo zero por pjresende em agosto 18, 2010
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O post desse 16 de agosto nos lança diretamente no olho de um furacão: a polêmica em torno do uso dos incineradores para a queima do lixo urbano. As usinas incineradoras são estruturas criadas especialmente para a queima do lixo. Embora essa alternativa já tenha a sua aplicação no caso de tipos de materiais muito específicos, ainda não é usual dar o mesmo destino para o lixo comum.

A construção de usinas de incineração tem duas grandes vantagens: uma delas é a redução do espaço necessário para a contenção de lixo – uma vez que a cidade passa a fazer a disposição final apenas do resultado da queima, que são basicamente cinzas e agua – e a possibilidade de aproveitamento dessa queima para a geração de energia elétrica. Especificamente para as industrias cimenteiras, surge uma terceira vantagem: essas organizações podem promover a co-incineração – ou seja, queimar o lixo junto a outros materiais, vender a energia elétrica gerada, empregar as cinzas resultantes no seu produto e, o mais surpreendente, podem ser remuneradas para esse fim, em acordos firmados com prefeituras e outras instituições públicas e privadas – digo que é surpreendente porque assim a empresa é paga para produzir cinzas que serão agregadas no produto que será posteriormente vendido, o que pode ser resumido na paradoxal frase: são pagas para ganharem dinheiro.

Mas…

Até o presente momento, essas seriam as únicas vantagens da adoção desses sistema de tratamento do lixo. Quanto aos “contras”, há uma série de argumentos enumerados nas mais diversas fontes. Vamos ver algumas delas, para que todos entendam a gravidade da questão:

1) Incineradores emitem poluentes para a atmosfera: além dos resíduos citados anteriormente, a incineração emite para a atmosfera uma série de substâncias. Segundo matéria publicada no portal G1, a incineração libera substâncias tóxicas, tais como partículas, metais pesados, dioxinas, líquidos inflamáveis e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. Qual o resultado disso? O aumento da incidência de casos de diversos tipos de câncer.

2) Incineradores apresentam um alto custo de instalação e manutenção: por conta do inevitável conjunto de medidas necessários para garantir a segurança da instalação, incluindo a utilização de diversos filtros especiais, os incineradores apresentam um alto custo de manutenção. Os defensores desse sistema divulgam que se trata de uma alternativa mais barata do que as outras opções de disposição final do lixo, mas tal afirmativa só é parcialmente verdadeira se for considerada a venda da energia elétrica gerada durante a combustão. Ou se as incineradoras não cumprirem as obrigações legais. Recentemente, um incinerador foi interditado em Itaperuna por fazer a queima de material hospitalar em uma estrutura que parecia uma churrasqueira a céu aberto, tal como publicado na jornal Folha de Italva.

3) Incineradores são uma “solução preguiçosa” para a questão do lixo: os altos investimentos na instalação de usinas de incineração acabam por minimizar o interesse público no investimento nas outras soluções para a questão – como a coleta seletiva, a compostagem e as campanhas de redução do desperdício e consumo consciente. A razão é óbvia, pois essas alternativas reduziriam o volume a ser posteriormente incinerado. Esse alerta já foi feito em 2002, pelo Greenpeace.

4) A destinação do lixo para incineração compromete a ocupação de atores do ecossistema do lixo: para que o lixo esteja em condições para a queima, este deve ter materiais como papel e plástico, que hoje já estão inseridos em outras cadeias destinadas à reciclagem desses materiais. Ainda que haja um argumento, de que a queima só se dê nos casos de papeis e plástico inservíveis para a reciclage, não há dados disponíveis no momento para evidenciar se o volume atual seria suficiente para a incineração. Uma política de estímulo à incineração significa uma ameaça aos catadores. O Movimento dos Catadores de Materiais Recicláveis, em correspondência enviada ao Presidente da República,  afirma:  O não reaproveitamento dos resíduos sólidos significa inviabilizar toda uma cadeia produtiva que emprega milhares de pessoas e que ainda tem um grande potencial de crescimento. A exemplo da experiência nos EUA, enquanto um incinerador emprega um posto de trabalho, a mesma quantidade de dinheiro investida na reciclagem emprega 646 trabalhadores. A queima de resíduos significa, portanto, dar as costas a quem precisa de trabalho.

5) Incineradores são uma solução falaciosa para a questão do lixo: sim, a “solução por meio da incineração” é uma falácia, pois não resolve a questão do lixo. Países tidos como exemplos representativos dessa forma de tratamento já tiveram cargas irregulares exportadas – ilegalmente – para o Brasil. O que era a carga? LIXO, inclusive lixo domiciliar – teoricamente, elegível para a incineração. Quais países? Até agora, Estados UnidosInglaterra e Alemanha, mas em 2006 a União Europeia demandou a viabilização de exportação de pneus para o Brasil.

Há pouco tempo, foi noticiada a instalação do primeiro incinerador de lixo doméstico no estado de São Paulo. Será que os benefícios vão superar os prejuízos potenciais?

Mais um detalhe: a presença de incineradores no Brasil não é recente, nem mesmo novidade. No site ReciclagemLixo, há um interessante histórico de incineradores instalados no Brasil. E quem quiser aprender mais um pouco pode acessar outro texto, também esxcelente sobre o assunto, no Brasilianas.

Dica do dia:

Solicite ao poder público que realize audiências públicas quando houver projetos de instalação de usinas de incineração na sua cidade. Exija a apresentação de dados sobre o projeto e sobre o inventário de emissões estimadas para o projeto.

Lixo gerado:

Papel: cerca de 50g.

Plásticos: 3 sacolas.

Outros: areia de gato – cerca de 300g.